dupla boca +
boca coletiva: ações em áudio nas lacunas da voz
Brandon
LaBelle e Ricardo Basbaum
Nosso
mecanismo vocal pode ser entendido como contendo duas bocas – uma, compreendendo
a cavidade oral, incluindo a língua e os dentes, e articulada pela abertura e
fechamento dos lábios; e outra, aquela da glote, com a abertura um pouco mais
abaixo, na garganta, e que controla a pressão e modulação do fluxo de ar. A
boca e as cordas vocais, os lábios e a glote: duas bocas, cada uma em sua
relação com a fala, cada uma participando nas fricções e faculdades da
vocalização. A dupla-boca pode ser destacada enquanto encontro do corpo e da
linguagem, onde a glote como a boca interior (a carne corpórea) conversa com a
boca exterior (a voz social), articulada pelos lábios.
Ao explorar
esta dupla-boca, o projeto procura ocupar e amplificar o espaço intermediário –
aquele intervalo onde corpo e linguagem se encontram, em que o interior se emancipa
a partir da vibração da glote, para então viajar através da boca, estendendo-se
através dos lábios em direção à enunciação. Todas as dinâmicas e intensidades
que ocorrem nesse intervalo, este espaço entre entrada [in] e saída [out], a
glote e os lábios, podem ser compreendidas através da história das poéticas do
som, das performances vocais, o que de Certeau chama de "a ópera da
glossolalia".
Além disso, quando dois corpos se relacionam um com o
outro, a linguagem e os sentidos desempenham um papel nos processos de entrar
em contato e se comunicar – isso constitui outra dupla-camada que envolve o
corpo e o espaço-social, as ferramentas da comunicação e seus protocolos.
Através desses protocolos, a boca é treinada socialmente para desempenhar e
administrar a economia das várias camadas de contato que se abrem entre este corpo – seus sentidos e pulsões –
e outros corpos. Aqui, a fala, a
escrita e outras ferramentas e mediadores da comunicação e do contato movimentam
e estendem o corpo para os territórios exteriores e o tornam multiplamente
audível. Este seria um segundo aspecto da dupla-boca: aquele que empurra o corpo
para seu lado de fora; a boca enquanto um lugar social exteriorizante.
Ao investigar esses intervalos, histórias e poéticas,
o projeto se desenvolve como uma dupla- ou mesmo tripla-boca: colaborações em
áudio entre estudantes de Bergen e do Rio de Janeiro.
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